EDIFÍCIO ANEXO CASA DE RUI BARBOSA

2013, RIO DE JANEIRO - RJ


ARQUITETURA
João Paulo Meirelles de Faria
Leonardo Shieh (SAA Arquitetos)

COLABORADORES
Simon Ducroquet
Daniel Jabra
Ricardo Azevedo

Concurso promovido pela Fundação Casa de Rui Barbosa e IAB Rio de Janeiro

A proposta que apresentamos para o Edifício Anexo ao Centro de Preservação de Bens Culturais da Casa de Rui Barbosa pretende dar continuidade e ampliar a importância cultural e simbólica do conjunto arquitetônico e paisagístico do Museu e seus Centros de Preservação. Além da tarefa de conservar os acervos do museu, o projeto considera com a mesma importância a ampliação do seu jardim, como bem de valor cultural. Ao longo da história se verificou como o jardim, que antes possuía um caráter simplesmente paisagístico passa a ter valor como bem cultural, daí o seu tombamento no ano de 1938 como jardim histórico, com suas espécies de plantas e as esculturas.

DUAS PEDRAS E UM JARDIM

O projeto se compõe de três elementos principais: duas grandes pedras e um jardim elevado. A pedra de maior porte configura o edifício do acervo propriamente dito e as áreas de recepção e técnicas; a menor em tamanho guarda os livros raros. O jardim se eleva do nível do chão para receber as exposições e para unificar o conjunto, dando ainda uma perspectiva privilegiada ao usuário sobre a rua.

O JARDIM ELEVADO

O jardim proposto está elevado em 3 metros do nível do chão e portanto se configura como contínuo aos programas situados no primeiro pavimento. Se configura como uma varanda das áreas de trabalho deste pavimento, ao mesmo tempo gera um micro clima agradável para todo o conjunto arquitetônico. Elevando o jardim, o pavimento térreo pode acolher com generosidade os programas de exposição, sala de cursos e o hall de entrada. O vazio do pavimento térreo comunica este com o subsolo e o nível do jardim, concentrando as circulações dos programas públicos. Duas escadas fazem essa comunicação de maneira franca e com visuais para a sala de exposições e sala de cursos. No subsolo este vazio se configura com uma ampliação do foyer, valorizando o auditório existente e acomodando um pequeno do café. O jardim elevado se estende pela laje de cobertura do auditório, que deverá ser avaliada quanto à sua capacidade de carga para receber vegetação, podendo receber substratos leves conforme o caso.

O ACERVO E AS ÁREAS DE RECEPÇÃO E TÉCNICA

O edifício do acervo está implantado sobre os terrenos recém-adquiridos pela Fundação. Estrutura-se através de duas grandes empenas de concreto, apoiadas cada uma em um par de pilares distantes entre si 7,20 metros formando balanços de 5 metros. A distância de eixo entre as empenas é de 15,20 metros e as lajes/vigas protendidas do piso vencem vão de 13,50 metros. Essa configuração estrutural permite ao edifício avançar sobre a projeção do auditório sem descarregar sobre ele as cargas do acervo. Desta maneira, o acervo está completamente recuado das divisas, tanto na face norte quando nos fundos do terreno, preservando assim a integridade dos vizinhos e dando maior qualidade e segurança ao mesmo.

O edifício é formado por um subsolo e cinco pavimentos. Térreo e primeiro pavimento (nível do jardim) recebem as áreas de recepção e a área técnica. Assim, são construídos com aberturas grandes para iluminação e ventilação (que podem ser controladas) e se relacionam de maneira franca (porém restrita) com os respectivos pavimentos do edifício existente. O acervo propriamente dito se organiza nos últimos três pavimentos (como pavimentos tipo) e no subsolo. Está projetado de modo a garantir as melhores condições ambientais e de segurança para sua preservação.

PAVIMENTOS TIPO

Os pavimentos tipo configuram pavimentos praticamente fechados que recebem quase nenhuma luz natural. Algumas pequenas aberturas possibilitam a entrada controlada de luz para uma eventual consulta rápida do material no próprio pavimento. Todo fechamento do edifício é feito de maneira dupla -- por razões estruturais e de programa -- produzindo um ” colchão “ de ar, de modo que as paredes internas nunca recebem diretamente as radiações solares. Economiza-se assim, sensivelmente a energia necessária para garantir temperatura e umidade precisas no interior do acervo. O colchão isolante pode ter ar natural ou acondicionado, conforme a orientação e conveniência. No caso de ar natural, pode-se promover eletronicamente a exaustão de ar eventualmente quente através da momentânea abertura de dampers na base e topo. Cada pavimento tipo tem 224 m2 de área de acervo podendo ser dividida em duas salas iguais de 112 m2, com temperaturas diferentes ou como um único espaço. Cada sala pode abrigar 43.500 livros totalizando 261.000 livros em suas 6 unidades.

São equipados com sistemas de controle de temperatura e umidade trabalhando sempre com a redundância necessária em caso de falha dos equipamentos. Cada pavimento possui dois “fan-coils” que, da mesma maneira, podem condicionar uma única sala ou salas compartidas.
Os equipamentos de combate ao fogo se utilizam do gás FM200 para as áreas onde é exigido um maior rigor de preservação e sua viabilidade será avaliada de acordo com cada parte do programa.

O SUBSOLO

O subsolo dos terrenos novos abriga uma importante área do acervo com as devidas condições para a total estanqueidade e controle de umidade e temperatura. Para isso são dotados de paredes e pisos duplos quando em contato com o solo. Este mesmo tratamento pode ser feito no subsolo existente se necessário. Nosso projeto considera este subsolo existente reconfigurado e estão sugeridas aqui áreas como uma futura expansão destes acervos. Os núcleos de acervo sugeridos neste projeto, tanto para o subsolo quanto para os pavimentos tipo, podem ser intercambiáveis conforme a melhor conveniência.

Além disso, o acesso aos acervos é restrito aos funcionários da instituição e sua organização permite que o funcionário circule entre todas salas sem precisar sair em áreas de público ou áreas sem condicionamento do ar. O acesso da sala de leitura ao acervo se dá de modo exclusivo através de uma passarela que se liga ao edifício existente. Todas as salas foram projetadas para receber arquivos deslizantes ampliando as capacidades de armazenamento da maneira mais eficiente e moderna.

OS LIVROS RAROS

Consideramos que os livros raros são aqueles nos quais há um interesse maior de exibição ao público, além da uma excelente guarda e preservação. Sendo proporcionalmente um volume pequeno de livros é possível expor com a devida segurança e garantia das condições ambientais necessárias lançando mão de uma estrutura de alta perfomance e tecnologias para o condicionamento e iluminação apropriadas. O edifício dos livros raros é independente do acervo principal e está situado sobre a sala de exposições, portanto sempre está presente visualmente para o público que visita as exposições.

Um prisma perfeito de 8,5 m de lado em concreto com paredes duplas se apóia em dois pilares de maneira assimétrica reproduzindo a assimetria das cargas do acervo concentradas na face leste do prisma. Esta estrutura por sua vez pendura, através de um par de vigas, uma caixa de vidro que contém os livros. Este prisma recebe uma cobertura de vidro devidamente sombreada que regula a quantidade exata de luz e radiação UV apropriadas para o recinto, como em um museu. O acervo portanto está condicionado dentro da caixa de vidro, que por sua vez está envolta pelo ar também condicionado da sala de exposições. E por fim ainda, as paredes duplas de concreto formam também um colchão de ar que pode ser condicionado ou ventilado conforme a conveniência da época do ano ou condição do dia, através de dampers de controle. O edifício para a exposição de livros raros possui capacidade de armazenar 2.100 volumes em 4 pavimentos totalizando cerca de 8.400 títulos conforme apresentado e pode ser ampliado em cerca de 35% neste mesmo espaço.

EDIFÍCIO DE APOIO

Adjacente ao edifício existente (Edifício Lacombe), propomos um edifício de apoio que contém a escada de segurança exigida no edital, a subestação de energia no pavimento térreo, os chillers do ar-condicionado no 3o andar (cobertura) e duas salas para reserva técnica no 1o e 2o andares.

Por fim, queremos que -- assim como o museu e seu jardim passaram de casa e chácara a bem cultural -- o acervo, hoje já considerado como bem cultural, possa fazer também o caminho inverso e adquirir um valor de paisagem, pela maneira como agora está inserido na cidade: duas pedras no jardim.





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